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Coordenação: Prof. Doutor David Justino
Uma das características mais persistentes do tecido social português da atualidade é o atraso no panorama educacional.
Detetado nos Censos realizados ao longo dos séculos XIX e XX (Graff, 1991; Candeias, 2004, 2005), os dados recolhidos por instituições nacionais (Santos et al. 2006) e internacionais mostram que a lacuna no campo educacional no contexto dos países desenvolvidos mantem-se como uma característica distintiva do país no início do século XXI: apenas 25% da população adulta (25-64 anos) tem como nível mínimo de educação o ensino secundário, em comparação com 67% da população da OCDE e 68% da população da UE (Candeias, 2008; OCDE, 2007).
Simultaneamente, apenas 67% dos portugueses com 18 anos estão envolvidos em alguma formação educacional em comparação com uma média de 81% da zona Euro (Eurostat, 2008) e a classificação média dos portugueses com 15 anos a Matemática, Português e Ciências na escala PISA 2006 permanece no último terço da amostra analisada, com percentagens bem acima das médias da OCDE (OECD 2008).
No entanto, o caso português é um dos mais surpreendentes e desafiadores. Resultados modestos nos testes estão associados com uma grande variedade de situações sociais da família e no seio da escola. Em termos relativos, os resultados dos testes são melhores do que seria esperado tendo em conta o nível e variação do ambiente socioeconómico.
Considerando o caso português uma exceção temos de questionar que fatores, variáveis e interações podem ajudar a clarificar os resultados. O papel da escola, o sistema educativo, os currículos assim como a desigualdade social e a ineficiência dos recursos disponíveis são fatores invocados frequentemente para explicar o baixo rendimento escolar. O debate envolve políticos, sindicatos, professores, associações de pais e diversos sectores da opinião pública, cada um tentando identificar fatores e responsabilidades do outro lado da “barricada”.
Surpreendentemente, a comunidade académica e científica não acompanha o debate com investigação suficiente em quantidade e qualidade para ajudar a clarificar as relações entre o ambiente socioeconómico, o enquadramento institucional e os resultados obtidos pelos alunos. Os raros contributos qualificados raramente são considerados nos debates públicos, mas alguns desses identificam abordagens alternativas que pretendemos recuperar.
Tentando escapar ao determinismo da ideia de atraso e de disponibilização de fundos alguns teóricos sugeriram outros fatores de abordagem tais como baixas expetativas e um acesso muito seletivo das oportunidades sociais (níveis de educação mais elevados, melhores recompensas profissionais e carreiras, posições sociais mais destacadas, etc.).
Os estudantes, tal como os seus pais e professores, elaboraram – mais ou menos autonomamente – expetativas sobre cenários futuros definidos pela estrutura de oportunidades (Grácio, 1997). Para sermos mais rigorosos, temos de falar sobre "expectativas adaptativas" se considerarmos o complexo de interações com o ambiente social e a estrutura de oportunidades numa abordagem dinâmica (como é que o mercado de trabalho, as representações profissionais e a ação orientada podem influenciar decisões, motivações e resultados educativos) (Nogueira, 2008. Justino, 2006, 2008).
Este é o contributo alternativo e crucial do projeto que requer uma mudança metodológica decisiva: mais do que identificar relações estatísticas entre atributos nós temos de identificar mecanismos sociais numa perspectiva analítica. Não é suficiente encontrar uma forte associação entre o alto nível socioeconómico da família, grandes expectativas e bons resultados nos testes escolares, é necessário saber como cada um destes fatores influencia os outros.